O QUE É UMA BOA ILUSTRAÇÃO? 


Procurei palavras tipo lápis, pincel, tinta, papel, para ilustrar este conceito.
Não foi possível. Pincel, ou lápis e tinta são substantivos e concretos. Penso que ilustrar requer abstração, desafio, observação…poesia quase sempre e uma dose bem servida de preconceito. Contra o óbvio.

Descobri pela milésima vez que uma imagem aliada – no livro infantil, na publicidade, no cinema – só multiplica o valor da palavra. Tipo: ”Quatro japoneses de terno preto e gravata cinza, num fusca branco com o logo Xerox nas laterais.”

Um amigo flagrou e me contou esta cena, em Sampa, no tempo daqueles fuscas ágeis e populares. 
A gente se divertiu com a conversa entre as linguagens contidas na cena banal, agora promovida a ilustração pra ilustrar a ideia de boa ilustração.

Nunca mais me esqueci dos quatro no fusca – que nem vi – ilustrando sem querer o conceito embutido na marca. (Xerox)
E ainda hoje os evoco quando as idéias ficam flácidas demais, na hora de começar um trabalho.

Ana Raquel

Voz : Maria Alice Ferreira,
Composição e arranjos: Marcos Rocha e Maria Alice Ferreira, sobre texto de Ana Raquel

Eu Sou…

…a ‘Bruxa Raculé’, vivo entre linhas traçadas pelas fadas de plantão, só pra pintar e bordar histórias de curtir e ler com aqueles ‘outros olhos’, guardados no nosso departamento de criação. Porque a gente tem olhos pra tudo, né não?

Meu nome mesmo é Ana Raquel, sou ilustradora desde o século passado, há mais de 35 anos. Em 2008 comecei a publicar meus escritos. Aí virei iluscritora.

E sou leitora desde quando livros eram impressos letrinha por letrinha, em preto no branco na tipografia e a ilustração servia para tampar buracos da diagramação, decorar o livro, explicar o texto. Não para desvendar as entrelinhas e ampliar a viagem do leitor, como hoje se faz, principalmente nos livros infantis. 
E para quem concorda comigo – que marmanjos também merecemos livros ilustrados- estou urdindo um livro que não tem nada de infantil, onde a imagem é tão ou mais forte que o texto, curto e fino. Ano que vem, quem sabe, termino…

Sorte minha, que nasci pra iluscritora, bem depois do Guttemberg!

Hoje, fadas, bruxas, bruxos e ‘fados’ autores, soltamos nossas cobras, anjos e lagartos coloridos, viajando entre as palavras, e produzimos livros infantis mais curtíveis e encantadores. (modéstia à parte que me toca…)
Me lembro de como a gente penava, antes, sem o computador pra agilizar. Hoje, as imagens parecem sair sozinhas de uma cartola virtual, né mesmo? 

Parece…mas não é mágica da tecnologia, essa ferramenta fabulosa, que facilita horrores. Na verdade, na prancheta ou no computador, cria-se com a mesma matéria prima: a alma, a memória, a vivência de cada criador. 

Assim, entre linhas e imagens, no caldeirão da fadaria ou da bruxaria, viciei nesta magia. Vivo disso e, se as fadas me valerem, quero morrer nisso.(… daqui a uns 100 anos pelo menos, eheh).